Crônica dos 51
Em
25 de Julho de 2014 completei 51 anos de idade. Não queria fazer nada,
absolutamente nada, nenhum tipo de comemoração. Mas, algumas pessoas que insistem em tolerar-me como amigo
quiseram fazer algo e dizer-me algumas coisas nesta ocasião. Meus pais falaram
comigo logo cedo por telefone, meus filhos, minha irmã, meus amigos próximos e aqueles que
achava que haviam se esquecido de mim, mandaram-me felicitações pelo facebook, o grupo musical que lidero na Igreja me fêz uma surpresa, até ganhei um presente! A Igreja, fez do culto semanal uma surpresa em gratidão e louvor pela minha vida, e, após o
culto teve até bolo de aniversário com direito a feijoada. Quem já teve feijoada no
aniversário após um culto? So eu! Ganhei também um jantar numa churrascaria que
imaginava ser “a churrascaria”, mas que decepção, não era nada daquilo que esperávamos!
Passei
este momento longe dos meus familiares e filhos, mais uma vez, e pretendo que
esta seja a última, pelo menos é isto que peço a Deus.
Enfim,
disseram-me para meu consolo, que os meus 51 anos tinha grande significado, pois
entre tantas coisas boas 51 é um ano de “uma
boa idéia”, aludindo ao comercial da caninha 51....”ninguém merece!!!”. Outros
se surpreenderam com os 51 achando que eu tivesse 56... – “sempre achei que você tivesse uns 56, disseram.” Já pensou?
Mas, houve também os que, por bondade disseram não parecer “tudo isto”, e achavam que estaria completando “quarenta e poucos” anos... - ai quem me dera!
Mas, houve também os que, por bondade disseram não parecer “tudo isto”, e achavam que estaria completando “quarenta e poucos” anos... - ai quem me dera!
Lembrei-me
do meu pai que, quando eu ainda criança, ajuntava os dedos da mão e me falava
que do dedo mínimo para o anelar significava dos anos 10 a 20, era fácil pois o
pulo era pequeno, do anelar para o médio significava dos 20 aos 30 e também era
fácil pois o pulo era pequeno; do médio para o indicador significava dos 30 aos
40, também era fácil; mas do indicador para o polegar significava dos 40 aos 50
anos, era difícil, o pulo era longo e muitas coisas difíceis iriam acontecer,
mas se eu passasse por esta idade deveria viver apenas como vivi que iria em
frente, porém, sempre em queda....prefiro não comentar.
Ele
estava certo! Passei, e como foram intensas minhas lutas entre os 40 e 50 anos.
Perdi muito, aprendi a contentar-me com o pouco, viver na solidão e aprender
com ela, fracassar e aprender com o fracasso, aprendi que errar faz parte da
vida, vi quem são os verdadeiros amigos, vi a hipocrisia de perto, a falsidade,
a apatia religiosa, as bocas carregadas de línguas estranhas e destruidoras, a “tocada”
de terror impostada no moralismo legalista, os patrões seculares capitalistas
selvagens, aproveitadores dos fracos e oprimidos, aqueles que tiram proveito da
sua fragilidade, aprendi a passar necessidades e sobreviver; mas também aprendi
que devo viver do que sei fazer e dos talentos e dons a mim gratuitamente
doados pelo Criador, e por eles não pago nada a ninguém, aprendi a valorizar as
pessoas que fazem parte de mim e da minha história, aprendi a manter a
distância de coisas e pessoas que exigem limites, estou ainda aprendendo a
focar-me no que sei fazer, descobri de novo o valor do chamado divino, estou
aprendendo a esperar, aprendi a guardar no coração as coisas boas e deletar
coisas ruins, não viajei, não ganhei dinheiro, não adquiri nada a não ser os
bens que fazem parte dos meus ideais hoje. Tudo que pude fazer na vida fiz
pelos outros, estudo, transporte, sustento, saúde, ensino, lazer, etc. Concluí, fui um
tolo quando deixei de ajuntar um pouco pra mim nestes anos, deixei de ajudar pai e mãe, meus irmãos...talvez tenha
doado às pessoas erradas o meu melhor, mas o fiz de coração e não me arrependo,
valeu cada lágrima, cada gota de suor, cada centavo empreendido. Tolice não ter
recolhido meu INSS corretamente e não haver cuidado melhor da minha saúde, dos
meus dentes, por não haver estudado e concluído um outro curso superior. Hoje
estou descobrindo que aquelas pessoas que fizeram pelos outros e não fizeram
por si mesmos, são os menores diante dos homens, um homem sem um diploma não é
quase nada na vida. Trago em mim agora as impressões passadas que ao emergirem
do meu inconsciente e tornam-se névoas passageiras que hora trazem saudade, hora
conforto, hora arrependimento, hora angustia, hora uma sensação de paz e leveza, hora uma grande turbulência.
Ah, ainda tem um montão de "dores" , medicamentos, restrições que terei de aprender a conviver daqui pra frente, e me dizem os mais velhos que eu, elas irão aumentar...
Ah, ainda tem um montão de "dores" , medicamentos, restrições que terei de aprender a conviver daqui pra frente, e me dizem os mais velhos que eu, elas irão aumentar...
Não posso queixar-me por não ter alguém para dividir minha vida hoje, afinal, eu sou responsável por estar sozinho hoje. Tenho suplicado ao Criador apenas que não me
deixe viver em solidão e isolado. Embora preocupo-me com a possibilidade de envelhecer sem alguém para
dividir minhas tristezas e alegrias, sem família, sem amigos. Por outro lado, conforta-me
saber que estando sozinho não estarei proporcionando tristeza a ninguém, pois não desejo
ser mal companhia pra ninguém, e do mesmo modo acredito, não terei que conviver
com a maldade inerente de uma parceria conjugal. Vou manter-me firme, não irei apressar as coisas, no tempo de Deus tudo se consumará.
O que tiver de ser, SERÁ!
Mas,
voltando aos meus 51 anos, tudo isto me tornou mais pensador e acabei esboçando algumas coisas que depois de processadas tomei algumas decisões por escrito. Resolvi pontuar a partir disto tudo, alguns deveres
que tenho para cumprir comigo mesmo, e são eles:
1.
Não deixarei que a opinião dos outros controle minha vida.
2.
Irei estabelecer objetivos e correr atrás deles, e não dos objetivos dos
outros.
3.
Irei fugir dos problemas sem solução e dos problemas alheios.
4.
Irei aceitar meus erros como fazendo parte do processo do viver.
5.
Serei mais otimista e vou acreditar mais na minha capacidade.
Bom,
em síntese, estou contando a partir de 25/Julho/2014 passados meio século de
vida! Começo agora mais uma etapa, meu primeiro ano retornando para o lugar de
onde vim, o poema de Dado Vila Lobos e Renato Russo “POR ENQUANTO”, sintetiza o
meu pensamento neste momento:
"Mudaram
as estações
E nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente
E nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente
Se
lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre, Sempre acaba
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre, Sempre acaba
Mas
nada vai conseguir mudar
O que ficou
Quando penso em alguém Só penso em você
E aí então estamos bem
Mesmo
com tantos motivosO que ficou
Quando penso em alguém Só penso em você
E aí então estamos bem
Pra deixar tudo como está
E nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa."
E nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa."
Se
por um lado existencialmente, sou conduzido a pensar assim, dentro do meu
coração repousa uma imensa confiança naquel’E que me trouxe até aqui. Que me
deu, que me tirou, que me sustentou, que me fez plantar coisas boas e ruins,
que me faz coisas extraordinárias hoje e sustenta-me com suas promessas. Este
Deus poderoso me diz que jamais me abandonará em minha vida.
“Porque Eu o
Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo: Não temas, que eu te
ajudo.” (Is.41:13)
Por
isso, sigo confiante e grato a Deus, agradeço a Ele por tudo. Obrigado por
estar aqui hoje escrevendo isto, obrigado pelos meus amigos, pelos meus
inimigos, pelo meu trabalho, pela saúde que tenho, pelos meus familiares, pelos
meus filhos, pelos meus dons e talentos, pelo dom da vida OBRIGADO SENHOR!
revws. (25/Julho/2014 - VV-ES)